EVENTO AMPROTEC

O processo de inovação nunca é feito apenas por um único ator, envolve parcerias de diversos setores e apoio de muitos lados, principalmente, quando o tema é tecnologia para o setor econômico mais importante do Brasil, o agronegócio.

No primeiro painel do Fórum de Inovação Sebrae, realizado no primeiro dia de Conferência Anprotec 2018 (17/09), contou com o tema “Inovação no AGRO, panorama e oportunidades para os pequenos negócios”. Na ocasião, os painelistas, de diversos segmentos, falaram sobre as necessidades do agronegócio e de como a inovação pode impulsionar mais ainda o setor de forma mundial.

É importante saber que nem sempre o Brasil esteve entre um dos maiores produtores de alimentos do mundo. De com os palestrantes, no final dos anos 70, o país precisou importar alimentos – e não aqueles que dificilmente se desenvolvem nos nossos campos, mas arroz, feijão e até mesmo leite.

Esse problema foi resolvido no início dos anos 80 com ajuda da tecnologia, que nos colocou no ranking como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, e fez do agronegócio o setor mais importante para a nossa economia até hoje.

A relação da tecnologia com o agronegócio é de longa data e exige que as instituições de desenvolvimento tecnológico estejam lado a lado das empresas, porque as inovações só se desenvolvem – e passam a trazer impactos para a sociedade – quando são realizadas dentro do âmbito privado.

 

O dia a dia das instituições

Para o Presidente da Agência Paulista de Tecnologia dos AgroNegócios, Orlando Castro, o distanciamento entre as instituições de pesquisa e as empresas faz com que o desenvolvimento das inovações seja muito mais lento, o dificulta a criação de soluções que poderiam ser rapidamente absorvidas pelo mercado.

“Há uma grande dificuldade de se iniciar uma pesquisa ou projeto a partir da necessidade do mercado, principalmente para o agronegócio. Temos que gerar tecnologia para essa agricultura que temos hoje, que exige um alimento mais saudável, com uma boa produção e menos desperdício. As grandes instituições de pesquisa precisam entender essa demanda e ajudar a criar novos produtos, variedades mais ricas, e pensar em controle biológico. Esse é o ambiente que temos que fomentar, não tem temos mais condições de fazer nada sozinhos”, disse Castro.

Atualmente, no Brasil, já existem mecanismos legais para estreitar cada vez mais os laços entre o público e o privado, “Precisamos fazer com que o conhecimento que geramos nas universidades e nos institutos de tecnologia e ciência possam ser adquiridos por empresas e receber aportes privados para se desenvolverem”.

 

A importância dos ambientes de inovação

Entretanto, essas pontes não nascem sozinhas – ainda. Elas precisam de um intermediador e, por isso, instituições como parques tecnológicos, aceleradoras e incubadoras têm papel crucial na construção do ecossistema de inovação brasileiro.

Para o Diretor Executivo do Parque Tecnológico Botucatu, Carlos Alberto Costa, essas instituições constroem a base para que a inovação se desenvolva, fazendo com que as empresas e a academia mudem conceitos e comecem a trabalhar juntas e a compartilhar recursos, tendo mais confiança uma na outra.

“Um bom exemplo é a cultura dos grandes empreendimentos, que, até poucos anos ainda não tinha absorvido a ideia da inovação aberta; hoje, isso já está muito mais maduro. E somos procuradores, pois a plataforma vai fazer essa ponte de forma segura”, comentou Carlos.

 

Como transformar ideias em negócios

O empreendedorismo está mais forte do que nunca no Brasil. Há diversas formas de se buscar aportes financeiros e mentorias para tentar emplacar uma inovação no mercado. Mas o que falta para que as ideias virem negócios concretos?

Por um lado, para as startups, ter capital na fase inicial é realmente muito importante, e, por outro, existem grandes empresas que não conseguem desenvolver inovação tão rapidamente dentro da própria casa por diversas burocracias. É dessa necessidade, de ambos os lados, que é possível criar valor, trabalhando em conjunto.

As empresas têm buscado, cada vez mais, adaptar seus modelos de negócios para ter ao lado startups que desenvolvam soluções específicas para suas necessidades. Dentro dessa parceria é possível fazer várias ações, como exemplificou o CEO da AGTECH Garage, José Tomé.

“É possível criar valor de forma conjunta e, dependendo do estágio da startup, a empresa pode integrá-la, fazer um White label, Hubs de Inovação, tem muitas coisas que podem ser feitas nessa parceria. É um ambiente aberto e isso permite ser muito ágil nas ações”, explicou Tomé.

 

Lado investidor

Rubens Fileti, da Mas Soft, mostrou a sua visão como investidor, o que busca em uma empresa nascente e quais os principais pontos de atenção quando faz o trabalho de prospecção.

“Procuramos pegar esse tipo de startup e agregar no nosso portfólio, mas o ponto base é, será que esse fundador não está procurando apenas dinheiro para se desenvolver e ir embora? Não entro em nada quando os fundadores estão preocupados em sair logo”.

Um dos desafios para quem é investidor é garantir que os sócios das empresas tenham conhecimento em administração. Para fazer com que a inovação seja, de fato, desenvolvida é necessário ter noção se é viável para o mercado, qual a dificuldade de emplacar o produto, as formas de divulgação, se haverá público, e custos. Isso vai muito além do conhecimento técnico que as empresas oferecem.

 

Onde precisamos avançar em inovação

Apesar de termos avançado muito em pouco tempo dentro do agronegócio, o Brasil ainda precisa se desenvolver em muitas áreas, principalmente para solucionar necessidades do mercado, a fim de impulsionar a nossa competitividade, tanto na área de agronegócio quanto na área de tecnologia e inovação.

Um dos pontos citado por Orlando Castro foi a produção dos alimentos mais saudáveis que o novo consumidor está exigindo. Trata-se de trabalhar em toda cadeia de agronegócio.

“Temos que gerar tecnologia para essa agricultura. É necessário que você tenha instituições de pesquisa que atendam essa demanda, novos produtos, variedades mais ricas, pensar em controle biológico para diminuir o uso de agrotóxicos, pensar nos fitoterápicos para pecuária, etc., porque o mercado brasileiro e internacional vai exigir que o produto final tenha um desenvolvimento diferente”.

Outra área que necessita de avanço segundo os painelistas, é a integração das tecnologias. Rubens destacou que há, sim, muitas soluções e apps, mas é necessário pensar em como o produtor vai integrar tudo sem precisar abrir várias coisas ou usar plataformas diferentes, porque isso dificultará o trabalho em vez de ajudar. Segundo Rubens, é necessário começar a “agregar valor no serviço e não apenas no produto”.


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