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Matéria por Sérgio Santa Rosa 

Durante o I Workshop Indicação Geográfica Cafés da Cuesta, realizado no dia 07 de março, no Auditório da Biblioteca da Fazenda Experimental Lageado, câmpus da Unesp, em Botucatu, foi criada a Associação da Cuesta Paulista (ACP), entidade que reúne produtores de café da região do Polo Cuesta.

A ACP nasceu com objetivo de trabalhar pela obtenção da Indicação Geográfica (IG) da produção cafeeira da região junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A IG identifica a origem de um produto ou serviço que tem certas qualidades graças à sua origem geográfica ou que tem origem em um local conhecido por aquele produto ou serviço, ou seja, é uma forma de reconhecer, valorizar e proteger a marca de produtos que possuem características distintivas em virtude do seu território, produto ou tipo de produção.

A obtenção da IG para o café da Cuesta Paulista pode trazer benefícios significativos para o desenvolvimento regional, os produtores e demais agentes envolvidos nessa cadeia produtiva a partir do fortalecimento da reputação e da imagem desse café no mercado nacional e internacional.

A ideia de reunir os produtores da região num esforço coletivo para a busca da IG para a produção cafeeira da Cuesta ganhou força durante o Circuito Cafeeiro da Cuesta Paulista, evento realizado de 30 de novembro a 02 de dezembro de 2023 em Pardinho. Nessa ocasião, houve uma aproximação entre representantes do Sindicato Rural de Pardinho, do Núcleo de Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo (Inetec) da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, câmpus de Botucatu e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), câmpus de Avaré, que resultou na realização do Workshop.

Além de vários cafeicultores da região, o Workshop teve a participação do professor Caio Antonio Carbonari, vice-diretor da FCA; Raquel Nakazato Pinotti, pesquisadora científica na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA); Elvio Aparecido Motta, coordenador-geral do Escritório Estadual de Desenvolvimento Agrário de São Paulo; Daniella Romano Pelosini, presidente do Sindicato Rural de Pardinho; professor Gustavo Matarazzo, coordenador de pesquisa e inovação do IFSP; professora Silvia Angélica de Carvalho, coordenadora do Inetec/FCA; Francisco José Mitidieri, da Superintendência de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo e Coordenador do Fórum Paulista de Indicações Geográficas e do professor Saulo Phillipe Sebastião Guerra, diretor da Agência Unesp de Inovação.

Ao longo do dia, os participantes do workshop puderam assistir a apresentações e tirar dúvidas com Francisco Mitidieri e com Felipe Lara, docente do IFSP, responsável pela Indicação Geográfica da uva de Jundiaí, que falaram sobre a importância e os trâmites para o processo de IG, trazendo informações técnicas sobre a documentação exigida. Foram os especialistas em IG que apontaram como aspecto fundamental neste processo a constituição de uma associação, para que os critérios de implantação fossem estabelecidos e conduzidos junto ao INPI.

Ainda durante o evento, os produtores se organizaram e criaram a Associação da Cuesta Paulista (ACP) para a qual foram eleitos os produtores rurais Pedro Berengani e Daniella Romano Pelosini, como presidente e vice-presidente, respectivamente. Ao final do evento, todos os presentes assinaram um termo de manifestação de interesse em apoiar o pedido de Indicação Geográfica do Café da Cuesta Paulista.

Impressões

"A proposta de instituição da Indicação Geográfica surgiu em um momento muito importante para a FCA, quando estamos implantando o novo programa de mestrado profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação (PROFNIT), que discute, em uma de suas áreas, o tema das IGs.”, comentou a professora Sílvia Angélica, do Inetec. “Esse projeto será um marco importante para a Unesp e, por isso, é fundamental o apoio da Agência Unesp de Inovação. Assim, Inetec, AUIN e FCA nos unimos ao Instituto Federal de Avaré, para viabilizar essa iniciativa que terá impacto no desenvolvimento econômico da região e em toda a cadeia produtiva dos cafés da Cuesta Paulista".

O professor Saulo Guerra, da AUIN, qualificou o evento como extraordinário. “Quando falamos em denominação de origem ou do IG vamos para um outro patamar e colocamos a Cuesta de Botucatu em um cenário global, ou seja, colocamos um produto que é nosso à disposição do mundo, afirmando que temos produtos de qualidade, com tecnologias e inovações sociais e isso é importante para nossa universidade. Por isso que a AUIN se fez presente no evento, apoiando as ações institucionais da FCA, do Polo Cuesta e da associação recém-criada, iniciando com o café. Acreditamos que tais iniciativas não devem parar no café. Esperamos avançar com o mel, com as uvas, com produtos da região da Cuesta que precisamos identificar, caracterizar e valorizar. Nesse processo, obviamente, a universidade precisa se fazer presente, gerando pesquisa e fazendo a transferência de tecnologia para a sociedade”.

O vice-diretor da FCA, professor Caio Antonio Carbonari também destacou a importância da iniciativa e o apoio da universidade. “Não acho que seja um caminho fácil, mas com os atores que conseguimos reunir aqui hoje, tenho certeza de a obtenção da IG vai avançar, para termos algo que agrega valor aos produtos da região. A FCA está de portas abertas para os produtores. Pela história que a Fazenda Lageado tem com o café, para nós é uma grande alegria receber um evento relacionado ao tema e poder contribuir para agregar com as pesquisas e com nossa forte tradição de extensão. Somos uma unidade universitária muito aberta à ideia de interagir com o setor produtivo. É um prazer nos juntarmos aos produtores nesse desafio”.

O professor Gustavo Matarazzo, do IFSP, também considerou o evento bem sucedido.  “A quantidade e a importância das instituições aqui reunidas mostra isso. Tenho certeza que a IG vai trazer resultados econômicos e financeiros para esses produtores. Isso demonstra a importância das universidades e instituições de pesquisa estarem juntas para apoiar esse tipo de iniciativa, que é muito importante para o desenvolvimento social e econômico da região. A próxima etapa é o registro da Associação da Cuesta Paulista, que foi criada hoje. Essa associação vai apoiar e juridicamente será responsável por esse pedido de Indicação Geográfica. Acredito que também tenhamos agora  uma ação mais vinculada entre Instituto Federal e Unesp no sentido de auxiliar a produzir os documentos que vão fundamentar esse pedido junto ao INPI. Com essa documentação, será possível proteger e promover essa marca. Os produtores que quiserem ter esse selo precisarão produzir conforme as especificações técnicas relatadas por esse grupo de produtores que iniciou aqui hoje”.

Uma das idealizadoras da proposta da obtenção da IG, a presidente do Sindicato Rural de Pardinho Daniella Romano Pelosini, eleita vice-presidente da Associação, qualificou o evento como um marco para os produtores da região. “Creio que demos um grande passo. E muito também pela presença dessas entidades de peso aqui representadas: Unesp, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura, APTA, Parque Tecnológico, Sebrae, Agência Unesp de Inovação.  Sabemos que o caminho não é curto. São processos burocráticos longos, mas no que depender de nós faremos com agilidade e rapidez. Vamos com força a partir de agora”.

O cafeicultor Pedro Berengani, de Cerqueira Cesar, escolhido presidente da Associação, reafirmou a importância do esforço coletivo feito por produtores da região e o apoio das entidades governamentais. “O selo vai trazer o incentivo às boas práticas agrícolas e serve como uma maneira de incentivar a sucessão familiar, incentivar o jovem a permanecer no campo e continuar o trabalho iniciado por seus pais ou avós. Ele serve também para que o consumidor saiba que ele está comprando um produto de procedência e confiança, com uma história por trás. O selo chancela essa história. É importante também porque está sendo feito em parceria com a Unesp, com o ambiente acadêmico e órgãos governamentais como o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura e a APTA. É uma porta aberta para que esses órgãos possam nos dar embasamento técnico e científico para validar nossas práticas no campo. Dessa forma poderemos construir uma IG e mostrar para o mundo o que temos de melhor, que são as nossas pessoas a os nosso ofícios. É um momento muito importante e simbólico para nossa região”.